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Aramis

"A Missão", a super estréia da semana

Há uma semana que a imprensa nacional abre o máximo de espaço à mais importante estréia da temporada: "A Missão" (Cine Itália, em exibição desde ontem). Palma de Ouro em Cannes-86, oito indicações ao Oscar-1987, rodado ao lado argentino das Quedas do Iguaçu há menos de dois anos, esta produção dirigida por Rolland Joffe ("Os Gritos do Silêncio/The Killing Fields"), representou para a produtora inglesa Goldcrest a grande salvação. Após dois fracassos - "Revolução" (Revolution, de Hugh Hudson, já em exibição no Brasil) e "Absolute Beginners" (musical com David Bowie, ainda inédito), "A Missão" tinha mesmo que se transformar num êxito. Assim é que ainda numa cópia experimental, sem detalhes de finalização foi levada a Cannes no ano passado e acabou ganhando a Palma de Ouro. Na ocasião, Leon Cakoff escrevia para a "Folha de São Paulo": "A premiação certamente não será comemorada pelo clero conservador. O filme de Rolland Joffe reabre uma discussão sobre a participação dos jesuítas na história colonial dos portugueses e espanhóis, particularmente na região que hoje compreende as fronteiras do Brasil com a Argentina e o Paraguai. Lá estavam os Guaranis no século XVI com uma cultura e organização social superiores. Tudo foi destruído com a revisão das fronteiras coloniais entre portugueses e espanhóis e o árbitro da hierarquia papal que via com desconfiança a ação dos jesuítas mais ao lado dos índios do que dos colonizadores. A Teologia da Libertação em nossos dias passa pelos mesmos dilemas e confrontações. A opção pelos pobres continua sendo mal vista pela multinacional da fé que o Vaticano irradia". No dia seguinte, após a exibição de "The Mission" em Cannes, a 15 de maio de 1986, Zuenir Ventura escrevia no "Jornal do Brasil": "Se o filme não chega a produzir o deslumbramento de uma obra-prima, ele é certamente uma grande obra, tecnicamente perfeita, um épico que mistura Igreja, selva, missionários abnegados como Robert de Niro e Jeromy Irons, muitos índios, massacre, bandidos e mocinhos. É uma superprodução que custou 30 milhões de dólares e evoca um momento que tem muito a ver com o Brasil". A PRODUÇÃO - O foco principal de "A Missão" é o drama humano e político de dois padres que encaram um dilema de fortes ressonâncias sobre a atualidade. Questões como a Teologia da Libertação, a luta armada, a exploração do Terceiro Mundo e a violência impulsionada pelo Estado explodem no filme e da História para os seus paralelos modernos. Jeromy Irons e Robert de Niro têm atuações soberbas, indispensáveis para sublinhar a tensão subjetiva que define dois caráteres profundamente diferentes. A fotografia de Chris Menges capta a surpreendente luminosidade da selva e a beleza da região em que foi rodada - próximo a Foz do Iguaçu, no lado argentino das Cataratas. A luz natural das regiões filmadas criou uma série de dificuldades para a equipe britânica mas acabou criando um caleidoscópio luxuriante, num visual incrível. O co-produtor italiano, Fernando Ghia (que entre outros filmes produziu "Amarcord" de Fellini e "O Caso Matei" de Rossi), já mais de dez anos pensava no projeto, que só se transformou em roteiro quando a idéia foi entregue a Robert Bolt - que, entre outros trabalhos para o cinema foi o roteirista de "O Homem Que Não Vendeu Sua Alma". A produção foi difícil, com locações na selva - a equipe se fixando em Quedas do Iguaçu. A cidade de Cartagena, na Colômbia, com sua arquitetura colonial quase intacta, faz o papel de Assunção no século XVIII. A missão de São Carlos, onde trabalham os padres Gabriel e Menodozza, foi inteiramente construída no meio da selva. Um filme premiado, o grande evento cinematográfico do ano - destinado a ter a maior repercussão. E que até agora havia sido visto apenas em duas sessões durante o III FestRio, tendo um lançamento inesperado nesta semana pós-Carnaval.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
15
06/03/1987

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