O canto da mulher entre os rurbanos
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 03 de fevereiro de 1985
Um aspecto que justifica uma interpretação mais profunda: a pequena participação da mulher na música rurbana. Com poucas exceções - Inhana (1923-1981), que durante mais de 40 anos formou dupla com Cascatinha (Francisco dos Santos, Araraquara, SP, 1919), no plano nacional e a querida Gabriela (Júlia Alves Graciano, Curitiba, 1923), que por 44 anos fez dupla com seu marido, Belarmino (Salvador Graciano, 1920-1984) - são exemplos mais conhecidos, mas, em geral, a música rural/rurbana parece ser um território ainda privativo dos homens.
Assim, quando a acordeonista, cantora e compositora Mary Teresinha (Bagé, RS, 1940) abandonou o seu parceiro e amante, Teixerinha (Vitor Mateus Teixeira, Taquara, RS, 3/3/1926) o rompimento foi manchete por vários dias na "Zero Hora", o principal jornal gaúcho. Manchetes que voltaram a acontecer há algumas semanas, quando Mary Teresinha, de volta dos EUA, casou com seu novo parceiro, o astrólogo Ivan Trilha - com quem divide as músicas de seu novo elepê ("Grande", Fontana/Polygram). Enquanto Teixerinha dividiu com a mineira Nalva Aguiar o seu último elepê (Continental/Chantecler), na qual explicitamente amarga críticas a sua antiga companheira, Mary, mais elegantemente não chega a tanto nos vanerões deste seu elepê-solo, contendo, ao contrário, até mensagens de otimismo em "A Festa Eterna", "Bailongo" e "Por Amor".
Domitilia e Fleury é um casal que busca o espaço deixado por Cascatinha e Inhana, ao ponto de num recente elepê ("Dupla Coração Sertanejo", Fermata) regravarem a clássica guarânia "Índia" (J. A. Flores/M. O. Guerrero), que na versão de José Fortuna, foi o maior êxito daquela dupla. Outros clássicos do repertório rural - como "Chico Mineiro", toada de Tonico/Francisco Ribeiro, "Cabocla Teresa" (João Pacífico/Raul Torres), "Canoeiro" (Zé Carreiro), "Paineira Velha" (José Fortuna), "Beijinho Doce" (Nhô Pai), "Mágoas de Boiadeiro" (Nonô Basílio/Índio Vago) e "Menino da Porteira" (Luizinho/Teddy Vieira) também estão neste elepê de público certo.
Já a loira Suzamar abandona a postura rural de seus elepês anteriores - para buscar uma imagem sexy e um repertório dor-de-cotovelo em "Atrás da Cortina" (Copacabana), com versões de sucessos como "Pajaro Campana" (que virou "Você é tudo pra mim") e "La que se fue" (aqui "Maldito Dinheiro"), ao lado de composições do gênero cujos títulos já identificam o estilo: "O homem que eu amo", "Coração Redomão" e "Amor Bandido".
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