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Aramis

Um péssimo titulo para um supernominado

A cada ano, há os filmes supernominados ao Oscar. Em 1983 foi "Gandhi". No ano passado, "Amadeus". Este ano há dois: "Out of Africa" (Entre dois Amores) e "The Color Purple" (ainda sem título em português). "Out of Africa", com o ridículo título de "Entre dois Amores", já está em cartaz no Lido I, após duas pré-estréias (sexta-feira e sábado) na semana passada. Um filme maravilhoso, que é há três meses um grande sucesso nos EUA e que retoma a tradição do grande cinema biográfico, resgatando uma escritora da maior importância na literatura européia, mas totalmente ignorada no Brasil: Isak Dinesen (1885-1962), pseudônimo da dinamarquesa Karen Christence Dinesen-Finecke, citada como uma das maiores e melhores autoras da literatura dinamarquesa e com um único livro editado no Brasil, justamente "Out of Africa" - aqui, "Uma Fazenda na África", 1979, civilização Brasileira. Produção de US$ 30 milhões, rodada no Quênia, com um grande elenco, "Entre dois Amores é mais do que o chamado cinemão americano. É um filme de emoções, que nos devolve a África mística e mitológica, a presença dos europeus, conflitos humanos e, sobretudo uma imensa poesia e beleza no roteiro que Kurt Luedike elaborou a partir de "Out of Africa" e de dois livros a seu respeito - "Isak Dinesen: The life of a Storyleller", de Judith Thurman, e "Silence will speak", de Errol Trzebinski. Se em "A escolha de Sofia" Meryl Streep integrava-se a uma migrante polonesa, numa interpretação pungente da personagem criada por William Styron, agora é a nobre dinamarquesa, com um inglês de forte sotaque, que, deixando sua tranqüila Rungstendhunt, ao Norte de Copenhague, vai viver no Interior do Quênia, entre 1914-1931. Só a interpretação de Meryl já justificava a visão de "Entre dois Amores", contracenando com o sempre ótimo Robert Redford e com o vigoroso Klaus Brandauer, que com apenas dois filmes - "Mefistofeles" e "Coronel Reidl" (ainda inédito comercialmente no Brasil) - se firmou como o grande ator europeu desta década. A fotografia de David Watkin é maravilhosa, com o aproveitamento dos amplos espaços verdes da África, na composição de seqüências oníricas - como as feitas num aeroplano. A trilha sonora de John Barry é fascinante - e especialmente significativa após tanta exploração roqueira nas "sound tracks" dos filmes contemporâneos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
29
23/03/1986

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