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Aramis

Uma cruel identificação do mafioso e o ditador

Porque Sadam Hussein gosta de "The Godfather"? Na página 27, iniciando o perfil do ditador ("O Senhor de Takrit"), Judith Miller e Laurie Mylroie, fazem um approach que pode explicar a identificação de Sadam com o personagem principal da saga do mafioso Don Victor Corleone - criado pelo escritor ítalo-americano Mário Puzzo, inspirado em "cappi" mafiosos de Nova Iorque - e que no cinema teve em Marlon Brando, a sua grande interpretação. Dizem as autoras: "Sadam Hussein adora "O Poderoso Chefão". É seu filme preferido, já o viu muitas vezes. O personagem Dom Corleone o fascina especialmente: um menino pobre que vence na vida, cujo respeito pela família só é superado por sua paixão pelo poder. O caráter de ferro de Dom Corleone talvez seja o modelo que mais se aproxima da enigmática figura que governa o Iraque. Ambos provêm de uma aldeia pobre e suja; ambos mantém sua autoridade através da violência e para ambos a família é a peça-chave, a chave do poder. A família é tudo, ou "quase" tudo, pois Sadam, da mesma forma que o Chefão, não confia em ninguém, nem mesmo nos familiares mais próximos. Para ambos, a disciplina, a frieza, a lealdade, a crueldade são a medida do caráter de um homem. Há, porém, uma diferença. Corleone era um homem comum, obcecado pela discrição, tentando sempre esconder seus crimes sob o véu do anonimato. Sadam é um homem público que usurpou o poder e agarra qualquer oportunidade para divulgar sua força. Sua meta é impressionar seus concidadãos, mostrar que não há alternativas para seu poder. Visitar o Iraque é entrar na terra do "Grande Irmão". Por toda Bagdá, há retratos de Sadam Hussein, cabelos negros e um grande bigode; estranha figura de onde emanam serenidade e poder. Na terra onde os sumérios inventaram a escrita, a palavra foi degradada a uma imagem onipresente. A diferença talvez não importe. Para ambos, Corleone e Sadam, a busca do poder e respeito é uma constante; quanto mais, melhor. Ambos conheceram a ausência total das duas coisas. Nenhum dos dois jamais esqueceu um insulto por menor que pudesse ter sido, ainda que imaginado. Ambos estão absolutamente seguros do que Mário Puzzo observou através de seu personagem: "Neste mundo chegará o dia em que os homens mais humildes, se ficarem de olhos bem abertos, poderão se vingar dos mais poderosos". Nessa semelhança talvez se consiga entender a ambição de Sadam Hussein".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
26/02/1991

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