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A grita de Palito por sua "Guerra do Pente"

O cineasta Nivaldo Lopes ("Palito"), 29 anos, autor de cinco curtas, um média ("Doce Abril de Aries/84") e "A Guerra do Pente", está distribuindo um furibundo manifesto ("Em nome do escrotismo nacional") no qual diz cobras e lagartos em relação a realidade cinematográfica nacional. Curtindo ainda a frustração de ter visto seu "A Guerra o Pente" maltratado no recente Cine-Rio Festival - cujos resultados, em seu entendimento, foram dos mais injustos, Palito pensa, inclusive, em ir, por sua conta ao Festival de Cinema Brasileiro de Brasília, que se inicia hoje - e onde seu filme não conseguiu nem ser selecionado para a mostra informativa. xxx O manifesto de Palito, dentro de sua visão do mundo, é um misto de carta de amor e sua musa inspiradora e protesto em relação a muitos pontos que, em seu entendimento, asfixiam a criação de cineastas independentes e que estão fora das "panelinhas" do eixo Rio-São Paulo. Ele começa, por exemplo, dizendo: - "Pela primeira vez sinto vontade de realmente manifestar publicamente meu repúdio ao escrotismo nacional que impera e vigora nos meios artísticos ou dito culturais. Que fique aqui não o desabafo pessoal e insignificante, mas, sim, um ato que se faz necessário retomar - o da denúncia. De quem realmente é o inimigo ao qual devemos combater. Desde o mergulho profundo de Glauber (Rocha) em si mesmo até sua inevitável morte física, ninguém mais ousou botar as cartas na mesa. Depois pra jogar limpo é preciso talento, é preciso idealismo, paixão segundo a imagem que move, o rompimento se necessário for". xxx Depois de ter realizado um misto de ficção e documentário sobre a batalha campal que aconteceu em Curitiba, há 27 anos, provocada pela briga entre um sargento da Polícia Militar e um comerciante sírio, que da praça Tiradentes espalhou-se pela cidade e durou três dias (só acabando quando o Exército saiu às ruas), Nivaldo Lopes pensa agora em realizar um novo projeto ligado a nossa história: o chamado Episódio Cormorant, ocorrido em junho de 1850, na baía de Paranaguá, quando um navio negreiro foi perseguido por um navio inglês e teve a resistência na fortaleza da Ilha do Mel. Só que as dificuldades são imensas. Se "A Guerra do Pente" teve uma ridícula ajuda da Secretaria da Cultura e Esportes que não cobriu nem 10% do orçamento, para este novo projeto serão necessários muitos mil cruzados - e Palito, ao contrário de certos sabujos que vivem se autopromovendo para se manter nas tetas do Estado, não fica bajulando os donos do poder. Logo, para ele nunca existem verbas. xxx Num trecho do seu manifesto, Palito investe contra o II Rio-Cine Festival, que premiou os média metragem "Nós de Valor... Nós de Fato" de Denoy de Oliveria (direção), "Adyos General" (fotografia: Aida Marques), "Igreja da Libertação" (montagem: Aida Marques) e "Um Minuto para a Meia Noite" (som: Walter Rogério), na categoria de média metragem em 16mm. Diz Palito a propósito: "Dando nome aos bois, me digam qual o mérito de montagem do filme "A Igreja da Libertação" frente a montagem de "A Guerra do Pente", excepcionalmente executado pelo Merege; me digam se o Denoy (de Oliveira) não ficou vermelho e quase teve um ataque quando recebeu o prêmio de direção por uma peça de teatro documentada, atribuindo o prêmio à atriz-diretora da peça no filme e não ao seu trabalho que nem esteve totalmente presente. Saberá ele o que é catar caixa de sapato na rua para montar cenário, viajar pra São Paulo de carona carregado equipamentos e latas de filme em ônibus e metrô? Saberá ele o que é dirigir 400 pessoas na rua entre populares e atores que nada estão ganhando para realizar tal trabalho? Não. Nem ele, nem os distribuidores de prêmios dos festivais sabem o que é isso! Que viva a conveniência e a manipulação em detrimento da garra e do talento de quem realiza por fé e convicção e não por outros fatores que preferia desconhecer".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
29/10/1986

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