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Aramis

Pianistas iluminados em momentos divinos

Que beleza !. Há tempos que não havia a coincidência tão feliz de simultaneamente sairem três discos de música instrumental com tamanho nível de criação e execução : " Coração de Estudante ", com Wagner Tiso ( Barclay ), ( Solo/Barclay ) e " Prisma " com Cesar Camargo Mariano / Nelson Ayres ( Pointer ) estão, desde já com lugar assegurado entre os dez melhores momentos instrumentais do ano. São quatro os pianistas que se incluem entre o que há de mais importante na moderna música brasileira. Estabelecer parâmetros, fazer comparações, discutir estilos entre estes artistas dos teclados é dispensável e perigoso. São instrumentistas na faixa do 40 anos, com metade de suas vidas trabalhando quase sempre em acompanhamento de cantores(as) mas que, nos últimos anos, começaram a desenvolver um trabalho individualizado. Um trabalho integrado e estético, pois embora capazes de fazerem discos sólos, todos procuraram apoiamento de outros ótimos músicos, complementando assim a harmonia e sonoridade que oferecem nestes momentos de intenso enlevo. A exemplo de Chick Correa, que tem dividido discos com outros extraordinários pianistas - também jazzístico Herbie Hancock, o clássico Friedich Gulda ou o recentemente editado álbum com o romeno Nicolas Economou - Cesar Camargo Mariano ( São Paulo, 19/9/1943 ) descobriu no encontro com outros intrumentistas - guitarista Hélio Delmiro em " Samambaias " ( Odeon,1981 ), o tecladista Wagner Tiso ("Todas as Teclas ", Barclay, 1983 ) ou a perfeita união a melhor cantora do Brasil, Nanan Caymmi ( "Voz e Suor", Odeon / 83 ), uma forma de colocar toda uma imensa sensibilidade e criatividade que, sem favor nenhum, foi responsável pelas melhores fases da carreira da sempre lembrada Elis Regina ( 1945 -1982 ). Agora, o enontro de Cesar Mariano foi com Nelson Ayres ( São Paulo, 14/1/1947 ) - outro virtuose que já deu sobejas demonstrações de competência em elepês solos na série MPBC ( Polygran, 1978 ), no emocionante " Mantigueira " ( Nosso Estúdio, 1981 / 1982 ) e, mais recentemente, com o grupo Pau Brasil ( Continental, 1983 ). Em " Prisma " - mesmo título do show que Cesar Mariano tem levado a algumas cidades e que, siceramene, esperamos, venha a Curitiba - foi utilizado, pela primeira vez no Brasil, um sistema de computadores totalmente digital. Explica Cesar que " a criação da música acontece primeiro : depois que já está tudo pronto entram os computadores para facilitar a execução e aumentar o nível técnico " Ou seja : a emoção antes da máquina. De nada adiantaria a mais avançada parafernália, se Cesar e Nelsinho não fossem gênios que emocionam nas nove faixas. Os recursos dos computadores possibilitam que se tenha a impressão de estar perante uma grande orquestra, quando na verdade há apenas três tecladistas - além de Cesar e Nelsinho. No comando dos computadores, técnico Dino Vicente. São seis músicas novas, absolutamente perfeitas : " Prisma " e " Capoeira ". de Cesar e Nelson; " Cidade Breakers " ( Cesar ), mas nas músicas já conhecidas e que se vê toda a competência destes músicos maravilhosos : "Última Inspiração" ( Peter Pan, 1940 ) abre com um solitário som quase parecendo uma harpa e vai crescendo até atingir um tratamento sinfônico. "Frevo Rasgado " ( Gilberto Gil ) tem uma releitura altamente vibrante, mas é " Nos Bailes da Vida " ( Milton / Brandt ) que se encontra o momento de maior inpacto. Depois desta gravação, nada será como antes. Ou seja : ninguém, cremos, fará um arranjo e interpretação instrumental mais lindo para esta obra-prima. Wagner Tiso ( Três Pontas, MG, 2/12/1945 ), desde seu primero elepê solo (Odeon, 1978 ) já deslanchava uma linha de absolução inovação criativa. O tempo só tem feito este fiel companheiro de Milton Nascimento firmar cada vez mais a sua linha de compositor e intérprete da maior voltagem. Agora, chegando ao quinto elepê como solista - realiza uma viagem sentimental que vai de um reencontro do " Clube da Esquina ", com efetiva participação dos amigos Milton, Lô Borges, Beto Guedes e Toninho Horta nos vocais, até aos dois belos temas criados especialmente para o emocionante " Jango ", um dos filmes que ganhou a trilha sonora Wagner: " Coração de Estudante " e "Caso de Amor ". Trabalhando com poucos músicos, mas habilidosamente arrancando os maiores efeitos do que o potencial eletrônico lhe oferece, Wagner também prova que as potencialidades dos computadores de sons devem estar, antes de tudo, a favor da sensibilidade. Pilotando os teclados do CP 70, DX 7, Memory-Moog, drumulador, Wagner produz momentos que nos convidam a viajar pelo espaço e imaginação. Há casamentos instrumentais perfeitos", o sax-soprano de Mauro Senise em " Nave Cigana ", o baixo de Nico Assumpção em " Giselle", a guitarra de Heitor em "Olinda Guanabara", novamente a flauta e sax de Mauro Senise ( e o baixo de Rodolfo Stroeter ) em "O frevo ilumina a cidade ", sem falar na sempre jazzistica clarineta de Paulo Moura em "Aos velhos amigos", somente em composição ao piano acústico ( na única faixa com este instrumento ) de " Aos Velhos Amigos". Em " Trote da Mangueira", a reunião com Senise. Paulo Braga ( bateria ), Nico e Senise. Em "Clube da Esquina", nos vocais além dos amigos mineiros, o belo coral Viva Voz, liberado por Ary Sperling e do qual fazem parte agora Belva Reed, Ronaldo e Kika. Pianista, arranjador e parceiro de Ivan Lins nos últimos anos. Gilson Peranzetta chega, afinal, ao seu elepê próprio: "Portal dos Magos", produção independente na etiqueta Solo e com distribução da Barclay - também tem a emoção e beleza do " Coração de Estudante" e "Prisma". Ao lado de músicos que há muito estão na estrada - Rafael Rebello no violão de 7 cordas, João Cortez ( bateria - percussão ), Luizão Maia ( baixo ), Ricardo Pontes ( sax-Flauta ), Arthur Maia ( baixo ) e Jorginho ( pandeiro ), gilson construiu um disco de extrema brasilidade em seus sete temas - todos de sua autoria, alguns com parceiros como o co-produtor do disco, Chico Nurzio ( " Nós. As Crianças ", " Encanto ", "Cheio de Graça ", "Portal dos Magos"), Gilberto Alban ( "Chorinho da Vovó") e Ivan Lins ( " Setembro / Caminho de Ituverara "). Povoando de cores a sonoridadedos temas, gilson decobre e revela belezas em cada harmonia, em cad acorde.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
28/04/1985

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